sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Destino Manifesto

Inúmeras desculpas foram inventadas pelos estadunidenses ao longo de sua existência a fim de defender seus ideais. E começaram antes mesmo da criação dos E.U.A., quando um grupo inglês descontente com com a Igreja Anglicana, os puritanos, se revoltaram com os pecados e vícios da antiga Inglaterra. Sua solução foi partir para um novo lugar, uma Terra Prometida. E foi na América que viram o local perfeito para desenvolver seus ideais. Usando justamente como argumento serem o povo escolhido por Deus (os novos hebreus), os colonizadores dizimaram os índios da costa leste, usando e abusando de sua vantagem militares e muitas vezes infectando os nativos com doenças por eles desconhecidas propositalmente. E isso foi apenas o começo.
Ao declarar sua independência, os Estados Unidos apresentou em sua constituição elementos que reafirmavam sua auto-nomeação como povo escolhido por Deus. Mesmo sendo extremamente inédito para a época, o sistema de governo americano já demonstrava sinais de que defenderia seus ideais não somente em seu país como em outros, como mostrado no trecho da Primeira Constituição Americana:
Westward the Course of Empire Takes Its Way
de Emanuel Leutze (1861
"Todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre estes a vida, a liberdade e a procura da felicidade. A fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados. Sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade."
Após a tomada das terras conquistados pela Coroa dos franceses, os E.U.A. começaram sua Marcha para o Oeste, resultando em uma guerra contra o México e o término do enorme genocídio indígena cometido na ocupação americana (dos 25 milhões de índios que originalmente ocupavam o país, restaram apenas 2 milhões). Com uma política chamada de Destino Manifesto, os Estados Unidos justificaram seu expansionismo tanto para o Oeste do próprio país como também  para o Oceano Pacífico. Novamente evocando a figura divina, eles se diziam escolhidos por Deus para levar a liberdade e democracia para outros lugares, quando na verdade só lhes interessavam eram áreas de influência econômica, tanto que nunca mantiveram controle político propriamente dito enquanto o país em questão lhe abria os portos para o comércio. Exemplo desse interesse, a ameaça feita por 4 navios de guerras a Tóquio quando o Império Japonês continuava com uma política de comércio fechada ao exterior em 1852 foi preparada com intuito de abrir as portas dos portos nipônicos aos americanos. Ameaça similar foi feita à China, que concedia vantagens comerciais apenas a europeus.
Com a Grande Depressão, os E.U.A. precisavam expandir sua influência e usaram novamente a política do Destino Manifesto a fim de libertar as colônias espanholas e terminar o Canal do Panamá, iniciado pelos franceses. Apoiando militarmente as rebeliões anti-coloniais no Caribe, os Estados Unidos contribuíram para o fim do declínio espanhol. Vencendo uma guerra final contra a Espanha, os E.U.A. detiveram controle sobre Porto Rico, Cuba e Filipinas, nessa última enfrentando resistência e movimentos pela independência e aniquilando 200 mil nativos. A situação das Filipinas mostra a hipocrisia americana, o conflito entre suas políticas pró-liberdade e a repressão de um povo.
A ambição dos E.U.A. teve seu ápice no ataque nuclear de Nagasaki e Hiroshima, atitude extrema mesmo em uma situação de guerra, que teve como principal consequência a hegemonia americana no Pacífico Sul, ameaçada antes pelos japoneses. Fatos mais recentes, como as invasões americanas ao Iraque e Afeganistão, tendem a mostrar que o domínio americano continua a ser fato concreto, e mesmo que neguem, suas ações demonstram claros pensamentos imperialistas. A imposição da liberdade por meio da força já é conhecida como "Paradoxo Americano", descrito por Joseph S. Nye Jr. em seu livro. A questão é que o problema não seria um Império, pois até impérios tem concorrentes, mas sim uma hegemonia da qual ninguém possa escapar, ninguém possa ser realmente livre, na qual todos estejam à sombra de uma única nação.


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